Quando ela estava tentando concentrar todas as suas atenções no objeto intelectual dos seus estudos olhou para fora e pela janela que já era tão conhecida sua e não viu nada de anormal além daquele céu já negro que era noite e os prédios e as casas e os prédios que cercavam a sua casa e o seu escritório. Havia algo de anormal. O vizinho da frente, da casa da frente, havia feito, cortado, uma fenda de cerca de 1 metro quadrado no telhado da sua cobertura, do seu terraço. O que esta fenda provocou na paisagem da moça que já estava habituada a conhecer a vida de cada um dos seus circundantes vizinhos de longe e de perto por cada uma das janelas que já haviam virado monotonia e tédio que não via nessas janelas nenhum motivo a mais para desviar sua atenção do seu objeto de concentração intelectual? A fenda abriu um mundo novo. A fenda possibilitou a visão de parte do edifício da frente, que havia estado tapado pelo tal telhado da casa da frente. E olha que a fenda no telhado tinha sido realizada como uma última saída para uma obra às pressas de emergência na caixa d'agua do vizinho. Ela havia acompanhado todo o procedimento da tal da obra e da abertura da tal da fenda ali de camarote da sua janela. O que ela ainda não havia observado era o tal do mundo novo aberto pela fenda. Através da fenda ela agora ganhou de bônus 3 janelas, sendo que 1 é de dormitório de casal, e também ganhou 1 varanda e meia. Esta meia varanda pode se alargar um pouquinho se ela deslocar a sua cadeira de escritório para a direita. E foi isso que ela fez. Esta meia varanda parecia muito mais interessante do que qualquer uma das janelas que ela já possuía. Sim, ela possuía aquelas janelas há pelo menos 1 ano. E todas já tinham perdido a sua graça, como brinquedos velhos. Pois bem, esta meia varanda era a varanda mais interessante de todas as 90 varandas do edifício da frente e muito mais interessante do que as 180 janelas que ela acompanhava dos edifícios vizinhos. Esta meia varanda, que antes era encoberta pelo telhado do terraço da casa da frente se mostrava despida de seu esconderijo. Agora ela havia se individualizado, não era considerada como apenas mais uma varanda das 90 varandas do edifício da frente. Agora ela era A Meia Varanda. Aquela Meia Varanda tinha um algo de diferente que a moça tentava notar. Tinha planta, samambaia, cadeira, e uma cortina. Sempre fechada. A moça não tinha mais elementos para construir as suas histórias, as suas suposições sobre a vida daquelas pessoas que, rodeadas de tanto concreto, já se mostravam, aos seus olhos, como também de concreto. Cada janela tinha a sua história que se interligavam se elas fossem no mesmo andar. "Poderiam pertencer à mesma residência", ela pensava. Outro dia a moça presenciou um assassinato de algum ser repudiado pelos seus vizinhos do quinto andar, da décima terceira janela. Mas da Meia Varanda nada. Nem pistas. Nenhuma viva alma. Nisso ela não se diferenciava muito das outras varandas. As outras varandas, todas as varandas, feitas de concreto não tinham mesmo alma nem plantas, como que nada ali vivia. Mas essa Meia Varanda tinha a samambaia, o que, por si só, já a tornava uma varanda especial. "Era uma varanda diferente", a moça pensava. Nisso se passava o tempo, as luzes se acendiam, se apagavam, se acendiam...
12/11/2009
02/11/2009
Cotidiano
Não parecia que a fumaça entraria em sua vida assim assim era uma forma poética de não dar forma às coisas. Uma fumaça não pode ser quantificada duas fumaças de comprimento x e largura y tomando proporções em progressões geométricas gerando fogo. Mas é o que há. Foi o que houve. Um fogo, dois fogos, três fogos invadindo a imensitude do espaço doméstico da residência onde resido. E a fumaça apoderou-se dos pertences do lar como uma dona-de-casa neurótica. Concluindo o seu momento o seu acesso de loucura ela tomou seus pertences que agora eram seus para si tornando gerando cinzas e pó. A dona fumaça não percebeu ser esta a residência onde resido. Ela sabe o que faz não espera permissão para varrer móveis a casa as coisas os pertences que já são seus agora que os tocou e é preciso cuidá-los. Ela traz o fogo nem quer saber. O fogo faz o trabalho. É a mão na massa. É a força. É a potência. É o macho resolvendo corsertando seus assuntos deste seu modo desarazoável. É o macho tomando para si e para a sua dona o que agora já é deles à força e de direito. Assim constroem o seu lar. Na residência onde resido.
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