O céu sobre as árvores,
sobre cada uma das folhas,
sobre cada um dos galhos torcidos e nus,
sobre cada uma daquelas estrelas que ali se mostravam,
(sim, era um céu além das estrelas).
Este mesmo céu pôde observar espantado,
estatelado,
como um voyer,
como um amante,
como um cúmplice de um crime do qual nunca se ouviu falar
Era isso, um crime:
um amanhecer sem sol.
Um amor nascente.
Um segredo deles ali.
Só deles.
16/12/2009
12/11/2009
As janelas e as varandas da frente
Quando ela estava tentando concentrar todas as suas atenções no objeto intelectual dos seus estudos olhou para fora e pela janela que já era tão conhecida sua e não viu nada de anormal além daquele céu já negro que era noite e os prédios e as casas e os prédios que cercavam a sua casa e o seu escritório. Havia algo de anormal. O vizinho da frente, da casa da frente, havia feito, cortado, uma fenda de cerca de 1 metro quadrado no telhado da sua cobertura, do seu terraço. O que esta fenda provocou na paisagem da moça que já estava habituada a conhecer a vida de cada um dos seus circundantes vizinhos de longe e de perto por cada uma das janelas que já haviam virado monotonia e tédio que não via nessas janelas nenhum motivo a mais para desviar sua atenção do seu objeto de concentração intelectual? A fenda abriu um mundo novo. A fenda possibilitou a visão de parte do edifício da frente, que havia estado tapado pelo tal telhado da casa da frente. E olha que a fenda no telhado tinha sido realizada como uma última saída para uma obra às pressas de emergência na caixa d'agua do vizinho. Ela havia acompanhado todo o procedimento da tal da obra e da abertura da tal da fenda ali de camarote da sua janela. O que ela ainda não havia observado era o tal do mundo novo aberto pela fenda. Através da fenda ela agora ganhou de bônus 3 janelas, sendo que 1 é de dormitório de casal, e também ganhou 1 varanda e meia. Esta meia varanda pode se alargar um pouquinho se ela deslocar a sua cadeira de escritório para a direita. E foi isso que ela fez. Esta meia varanda parecia muito mais interessante do que qualquer uma das janelas que ela já possuía. Sim, ela possuía aquelas janelas há pelo menos 1 ano. E todas já tinham perdido a sua graça, como brinquedos velhos. Pois bem, esta meia varanda era a varanda mais interessante de todas as 90 varandas do edifício da frente e muito mais interessante do que as 180 janelas que ela acompanhava dos edifícios vizinhos. Esta meia varanda, que antes era encoberta pelo telhado do terraço da casa da frente se mostrava despida de seu esconderijo. Agora ela havia se individualizado, não era considerada como apenas mais uma varanda das 90 varandas do edifício da frente. Agora ela era A Meia Varanda. Aquela Meia Varanda tinha um algo de diferente que a moça tentava notar. Tinha planta, samambaia, cadeira, e uma cortina. Sempre fechada. A moça não tinha mais elementos para construir as suas histórias, as suas suposições sobre a vida daquelas pessoas que, rodeadas de tanto concreto, já se mostravam, aos seus olhos, como também de concreto. Cada janela tinha a sua história que se interligavam se elas fossem no mesmo andar. "Poderiam pertencer à mesma residência", ela pensava. Outro dia a moça presenciou um assassinato de algum ser repudiado pelos seus vizinhos do quinto andar, da décima terceira janela. Mas da Meia Varanda nada. Nem pistas. Nenhuma viva alma. Nisso ela não se diferenciava muito das outras varandas. As outras varandas, todas as varandas, feitas de concreto não tinham mesmo alma nem plantas, como que nada ali vivia. Mas essa Meia Varanda tinha a samambaia, o que, por si só, já a tornava uma varanda especial. "Era uma varanda diferente", a moça pensava. Nisso se passava o tempo, as luzes se acendiam, se apagavam, se acendiam...
02/11/2009
Cotidiano
Não parecia que a fumaça entraria em sua vida assim assim era uma forma poética de não dar forma às coisas. Uma fumaça não pode ser quantificada duas fumaças de comprimento x e largura y tomando proporções em progressões geométricas gerando fogo. Mas é o que há. Foi o que houve. Um fogo, dois fogos, três fogos invadindo a imensitude do espaço doméstico da residência onde resido. E a fumaça apoderou-se dos pertences do lar como uma dona-de-casa neurótica. Concluindo o seu momento o seu acesso de loucura ela tomou seus pertences que agora eram seus para si tornando gerando cinzas e pó. A dona fumaça não percebeu ser esta a residência onde resido. Ela sabe o que faz não espera permissão para varrer móveis a casa as coisas os pertences que já são seus agora que os tocou e é preciso cuidá-los. Ela traz o fogo nem quer saber. O fogo faz o trabalho. É a mão na massa. É a força. É a potência. É o macho resolvendo corsertando seus assuntos deste seu modo desarazoável. É o macho tomando para si e para a sua dona o que agora já é deles à força e de direito. Assim constroem o seu lar. Na residência onde resido.
01/10/2009
"Canción de amor"
Ela achou que era possível mergulhar no som, como um mar trançado de acordes por violão, uma rede de pesca, peixes como notas a pular. Cardumes. Era Paco de Lucía. Era amor. Ela se banhava disso. Ela queria mergulhar, era o que banhava a sua alma, esse amor assim de tons. Por que não? Junto a essa teia vinham palavras. Ah, as palavras... essas sim eram peixes! Ela nadava. Nadava em seus sonhos acompanhada de um cardume de palavras de várias cores límpidas em águas lindas. Água gelada fresca. Bebia. Bebia essa alegria de ver raio de sol refletido. Refletido n`água era um espelho.
E os peixes, as palavras, quem as dava de comer era ele. Jogava pedaços de algo tão, tão, tão, que aos peixes não restavam dúvidas. Era alimento. Do bom. Do bem.
O que fazia ele, ali? Vivia. Também era pego de surpresa por essa alegria de raio de sol refletido. Essa alegria de ver peixes, palavras. Ah sim, o que eles tinham em comum era a alegria, o desejo de raio de sol refletido em espelho. Então ele vinha ali, aqui, à beira desse rio, desse mar, dessa rede, web, diariamente alimentar palavras. Dizia que por desejo, por vontade, por fome. Sabia bem o que era a fome. Sabia, pois que a fome era quem o matava. Pois, que se alimentem os peixes! Que se alimentem as palavras!
Paco de Lucía ainda nos ouvidos dela. Sempre a mesma "canción de amor". Ela sentia falta de algo. Não sabia o que. Ele também não sabia, mas queria. Ele tinha a fome. Ela tinha o desejo, só que seu desejo era muito vago. Ele já estava prestes, tinha a fome não esperava. A fome também era dela.
Como de costume, ela mudou de assunto. Pensou que a fome era do mundo e suspirou. Seu suspiro não pareceu alívio. Os acordes gritavam em seus ouvidos. Ela gritava por dentro. Gritava forte. Seu grito se apertava nos maxilares e ranger de dentes.
Foi quando ele lhe trouxe um espelho. Sim, ele lhe trouxe um espelho. Presente. Presente embrulhado que ela já sorria sem saber e se abrir e quando abriu chorou. Não foi de tristeza. Nem de lágrimas. Ela chorou por dentro. Como no fim da música. "Canción de amor".
E os peixes, as palavras, quem as dava de comer era ele. Jogava pedaços de algo tão, tão, tão, que aos peixes não restavam dúvidas. Era alimento. Do bom. Do bem.
O que fazia ele, ali? Vivia. Também era pego de surpresa por essa alegria de raio de sol refletido. Essa alegria de ver peixes, palavras. Ah sim, o que eles tinham em comum era a alegria, o desejo de raio de sol refletido em espelho. Então ele vinha ali, aqui, à beira desse rio, desse mar, dessa rede, web, diariamente alimentar palavras. Dizia que por desejo, por vontade, por fome. Sabia bem o que era a fome. Sabia, pois que a fome era quem o matava. Pois, que se alimentem os peixes! Que se alimentem as palavras!
Paco de Lucía ainda nos ouvidos dela. Sempre a mesma "canción de amor". Ela sentia falta de algo. Não sabia o que. Ele também não sabia, mas queria. Ele tinha a fome. Ela tinha o desejo, só que seu desejo era muito vago. Ele já estava prestes, tinha a fome não esperava. A fome também era dela.
Como de costume, ela mudou de assunto. Pensou que a fome era do mundo e suspirou. Seu suspiro não pareceu alívio. Os acordes gritavam em seus ouvidos. Ela gritava por dentro. Gritava forte. Seu grito se apertava nos maxilares e ranger de dentes.
Foi quando ele lhe trouxe um espelho. Sim, ele lhe trouxe um espelho. Presente. Presente embrulhado que ela já sorria sem saber e se abrir e quando abriu chorou. Não foi de tristeza. Nem de lágrimas. Ela chorou por dentro. Como no fim da música. "Canción de amor".
24/09/2009
Primeira jornada de um escritor
Capaz que soy yo. No creo. No escucho un carajo. Olhei a entrada. Pensei se poderia voltar atrás. Ele está aqui ao meu lado. Ele se ri de coisas que considero tolas. Pensei que era melhor entrar pela porta. Arriscar. Ele fala alto, mas é sem querer. Me estas escuchando? Ahora si. Tudo o que eu disser agora que eu entrei pela porta eu nego. Nego, pois já não tenho certeza se, ao passar por esta porta, eu ainda sou eu. O problema es tujo, estoy seguro. Na dúvida, começo desde já negando tudo. Inclusive o que foi dito mas deixarei as formalidades de lado. Entrei pela porta e as palavras pulam em cima de mim. Que engraçado. Parecem crianças me puxando, uma por cada perna, me puxando as calças, os bolsos, os cordões, os brincos, tudo. Falam todas ao mesmo tempo essas palavras! São tão imaturas! Quando crescerem mais perceberão melhor qual é o funcionamento desse mecanismo chamado vida. Agora brincam. E gritam. Ah, como gritam parem com isso, silêncio, shhhhh, todo mundo calado sentado não não puxa não bate empurra não não vale correr aqui vamos fazer uma roda. Uma roda. Uma de cada vez. Pode falar. Agora ela faz silêncio. Não falei? São imaturas! Me estas volviendo loco. Ela se aproxima. Ela pousa delicadamente as patas em minhas pernas e aproxima seu focinho do meu rosto. Não diz nada. Me olha como que querendo uma resposta. Eu não a tenho. I`m a star. Procuro percorrer o hall de entrada. Vou entrar aos poucos, já que este ambiente não me é familiar. Ela me olha como quem tem a absoluta certeza que descobriu agora que eu sou um gato. Seu focinho me fareja diferente. Ela está feliz, me vê miando. Ele continua ao meu lado. Ela agora está roncando. Ele pára para ouvir. Silêncio. Ela ronca alto, né? É. Deve estar sonhando comigo, agora que eu sou gato. Tem vinho? Obrigada. Obrigada. Brinde. Silêncio. Tudo se mergulha nessa calma azul com dourado. Silêncio. As vogais...olha as vogais...elas estão meditando. Sinto que é a hora, é o momento, é o fim.
11/09/2009
O Banquete
vocifera volátil o vinho em minha boca
volvendo meus lábios vadios nos seus
vergando em versos as suas volúpias
viril você no ventrículo meu
vem, vertigem venal
vascularizar o meu verbo vagido
vangloriar o viscoso em seu veio
verter em verdura e vaivém
vidrado, vibrátil, vezeiro
venturas velar até de verbete
vaguear sem vexame e varrido
vergalhar com torpor o meu leito.
volvendo meus lábios vadios nos seus
vergando em versos as suas volúpias
viril você no ventrículo meu
vem, vertigem venal
vascularizar o meu verbo vagido
vangloriar o viscoso em seu veio
verter em verdura e vaivém
vidrado, vibrátil, vezeiro
venturas velar até de verbete
vaguear sem vexame e varrido
vergalhar com torpor o meu leito.
08/09/2009
de saia transparente
ela, ela, ela, ela, ela, ela, ela...
biiiiiipsssssssiiiuuuasksfooommm khhfs jh hj jhdd dddd d uhhhhhhh
Não olha o sinal quando atravessa.
Eles sim, olham.
Eles olham os sinais dela.
biiiiiipsssssssiiiuuuasksfooommm khhfs jh hj jhdd dddd d uhhhhhhh
Não olha o sinal quando atravessa.
Eles sim, olham.
Eles olham os sinais dela.
07/09/2009
vermelho
eu também lábiosgosto vermelho quentes
gosto aceso doce
cedo cismando fogo
embaixo da saia rubro
......................................
molhados.
04/05/2009
vida = arte (a la Manoel de Barros)
1. Eu olho para o céu ao sair de casa.
2. Eu paro ao ouvir passarinho cantando.
3. Eu reduzo o passo ao ver flores no caminho.
4. Eu toco as flores.
5. Eu tento sentir o cheiro delas.
6. Eu consigo distinguir o cheiro do jasmin.
7. Eu me surpreendo ao ver papagaios soltos no Aterro do flamengo.
8. Eu penso que não gosto de pássaros em gaiolas.
9. Eu penso que as formigas me avisam da chuva.
10. Eu penso que o cachorro me avisa da chuva.
11. Eu penso que as cigarras me avisam do sol.
12. Eu gosto disso.
13. Eu penso que a vida é isso.
2. Eu paro ao ouvir passarinho cantando.
3. Eu reduzo o passo ao ver flores no caminho.
4. Eu toco as flores.
5. Eu tento sentir o cheiro delas.
6. Eu consigo distinguir o cheiro do jasmin.
7. Eu me surpreendo ao ver papagaios soltos no Aterro do flamengo.
8. Eu penso que não gosto de pássaros em gaiolas.
9. Eu penso que as formigas me avisam da chuva.
10. Eu penso que o cachorro me avisa da chuva.
11. Eu penso que as cigarras me avisam do sol.
12. Eu gosto disso.
13. Eu penso que a vida é isso.
25/03/2009
Sobre o espaço
Não sei quem povoei meus pensamentos
Na verdade, o mundo é muito pouco
Meus pensamentos voam muito, muito longe além de mim
Não sei
Não sei de onde eu me tirei agora
Sei que o espaço é o espaço onde eu não estou
agora
agora sim, estou
- Aonde eu fui?
- Não saí daqui em nenhum momento.
Na verdade, o mundo é muito pouco
Meus pensamentos voam muito, muito longe além de mim
Não sei
Não sei de onde eu me tirei agora
Sei que o espaço é o espaço onde eu não estou
agora
agora sim, estou
- Aonde eu fui?
- Não saí daqui em nenhum momento.
Assinar:
Postagens (Atom)
Navegue-me, por favor.
