01/10/2009

"Canción de amor"

Ela achou que era possível mergulhar no som, como um mar trançado de acordes por violão, uma rede de pesca, peixes como notas a pular. Cardumes. Era Paco de Lucía. Era amor. Ela se banhava disso. Ela queria mergulhar, era o que banhava a sua alma, esse amor assim de tons. Por que não? Junto a essa teia vinham palavras. Ah, as palavras... essas sim eram peixes! Ela nadava. Nadava em seus sonhos acompanhada de um cardume de palavras de várias cores límpidas em águas lindas. Água gelada fresca. Bebia. Bebia essa alegria de ver raio de sol refletido. Refletido n`água era um espelho.
E os peixes, as palavras, quem as dava de comer era ele. Jogava pedaços de algo tão, tão, tão, que aos peixes não restavam dúvidas. Era alimento. Do bom. Do bem.
O que fazia ele, ali? Vivia. Também era pego de surpresa por essa alegria de raio de sol refletido. Essa alegria de ver peixes, palavras. Ah sim, o que eles tinham em comum era a alegria, o desejo de raio de sol refletido em espelho. Então ele vinha ali, aqui, à beira desse rio, desse mar, dessa rede, web, diariamente alimentar palavras. Dizia que por desejo, por vontade, por fome. Sabia bem o que era a fome. Sabia, pois que a fome era quem o matava. Pois, que se alimentem os peixes! Que se alimentem as palavras!
Paco de Lucía ainda nos ouvidos dela. Sempre a mesma "canción de amor". Ela sentia falta de algo. Não sabia o que. Ele também não sabia, mas queria. Ele tinha a fome. Ela tinha o desejo, só que seu desejo era muito vago. Ele já estava prestes, tinha a fome não esperava. A fome também era dela.
Como de costume, ela mudou de assunto. Pensou que a fome era do mundo e suspirou. Seu suspiro não pareceu alívio. Os acordes gritavam em seus ouvidos. Ela gritava por dentro. Gritava forte. Seu grito se apertava nos maxilares e ranger de dentes.
Foi quando ele lhe trouxe um espelho. Sim, ele lhe trouxe um espelho. Presente. Presente embrulhado que ela já sorria sem saber e se abrir e quando abriu chorou. Não foi de tristeza. Nem de lágrimas. Ela chorou por dentro. Como no fim da música. "Canción de amor".


Um comentário:

  1. penso que isso do seu conto é um belo tipo de amor, inny. tua canção deve estar vibrando, neste momento, no peito de mais de uma pessoa. amor a dois é amor realizado. é felicidade.

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