30/09/2007

estava precisando suicidar-me um pouco,
botar as vísceras pra fora e depois pra dentro.
tudo dentro!
mostrar com quantas artérias se faz um coração,
me convencer que eu o tenho.

o coração...

é bom ver o sangue vez em quando
deixar que o corpo diga que estou viva
sentir dor física
(não essas dores da alma: dores mesquinhas que se acham gente! Não são gente!)

pôr-me à mesa
que me engulam crua!
Não irei me cozinhar...

Os óculos achados me lembraram gentes
gentes de óculos vêem melhor
qualquer lente vê melhor do que eu!
usarei óculos
agora em diante
pra ver o tempo passar

Ah, e o que é mesmo o tempo para que eu o aproveite? ...Pessoa Fernando usava óculos.

29/09/2007

caiu, caiu, caiu
foi caindo que se deu conta
que lhe faltava um chão pra cair
levantou
nem precisou de ajuda!
ela já sabe cair sozinha
e levantar
deu uns passos adiante
três passos, pra ser exato
(ela queria é sair correndo)

Dia desses eu a vi chorando
depois não vi mais

ela dança, ela canta
faz dessa arte a sua vida
qualquer tipo de arte
pintada com sangue
dançada com gritos
urrada, pra ser preciso
(ela queria é sair gritando)

18/09/2007

Eu morri e ainda não sei se o certo seria eu morreu. Sei a data que foi o ocorrido. Sei as circunstâncias. Sei tudo o que se passou e se passa após a morte do eu. Eu morri ou morreu, pouco importa. O que trouxe a morte foi um nascimento novo. Eu não nasceu denovo. O que nasceu foram os resíduos do que havia ficado pendente na ocasião da morte. Os resíduos em movimento geram produtos inexplicáveis. Há que se ter clareza do que são resíduos. Eu não nasceu denovo. Enquanto os resíduos se ocupam em pendências, ocupam pendências, o que sobra é o vazio. O vazio nasceu. Há que se celebrar o vazio que nasce, o vazio que nasce a cada dia. Não o que morre.

17/09/2007

E se tocar?

Ela acordou e foi escrever. Seu lápis percorria o papel ou as teclas do seu computador, ou o que vier primeiro, como se percorresse as pernas dela e dele, ou deles, e descesse e subisse e assim tecia uma história. Não sabia ela que ao tocar o papel, ou a tela, ou o mouse, ou os dedos, ou o corpo dele, ela também tocava uma parte da história dela, a própria, e tocava também o sagrado das religiões que começava lá com a moça que parava para assistir. Disseram que a história virou luz. Ela que surgira assim depois de uma noite de lençóis e travesseiros e jarros derrubados e despedidas e portas e beijos e adeus. Sem até logo.
A outra foi tocada pelos dedos voluptuosos das palavras. Pegou outro lápis e foi escrever. Foi falando de máquinas que sem perceber falava de si. Sua pele virava um produto cheia de produtos que geravam produtos consumidos pelos consumidores que ela consumia: cheia de si.
A terceira fez-se presente. A outra-outra. Aquela que se deixou transpassar pela história. Deixou que a história subisse pelos pés e adentrasse as concavidades do seu corpo. Assim de baixo para cima, quase de cabeça para baixo.
Disseram que a história se fez luz. Disseram também que a história se fez gozo.

15/09/2007

O sol na pele queimava o que os braços moviam devagar e rápido, desde as escápulas até a ponta do que era conhecido como verdade. O que as linhas falavam dela? Certamente era o que às pernas faltava, um pouco de joelho e pé. O que movia eram apenas as circunstâncias daquele beijo que ocorrera há tão pouco e que ainda habitava seus lábios e seus cabelos tão cacheados. O chão que fora construído pela manhã permanecia ali, um pouco carregado, deslocado, compartilhado, bem verdade, mas sempre ali presente o chão. Suas pernas bem sabiam. Ou não. Estavam seus braços procurando seus olhos e os olhos achavam seu corpo, dele, de verde, tocando cada centímetro da alma dela que não enxergava mais nada. Ele ajudava a construir o chão, verdade. É que a presença dele construía um algo que ela gostava e movia dentro deles cada uma das vértebras. As cabeças se procuravam a cada suspiro. Os pés bem sabiam. Os olhos também.

11/09/2007

vocês são artistas, muito bonito, toca pra mim, eu nunca vi nada igual, bonito, nunca ouvi, é o quê, ioga, teatro, ginástica, caralho, corpo, jogo, brincadeira, quanto, por quê, pra quê, olha o que a maconha faz, o que tá havendo, é surto, são doidos, vocês, apaixonada por ela, toma cuidado, pensa que tá onde, trabalho, e o dinheiro, pouca vergonha, eu não, de mão dada, na rua, é evangélico, é gay, é beijo, é cifose, é escoliose, é cenário, caixinha de música, novela, bonita, dinheiro, bate ponto, pode bater, comer, dar, aonde ?

09/09/2007

ali a pedra ficou ali eu bati ali a pedra ficou ali retornei ali eu bati ali a pedra ficou ali retornei ali eu bati ali............................ali eu sentei.

E foi ali que a pedra virou uma amiga,
companheira,
quase irmã.

Ah, a pedra...

05/09/2007

naquela noite as duas...
nele.

o sol em três,
depois da noite.

depois do sol,
só dedos.

depois dos dedos...
ele.

as duas em si,
os três sem dó.

ele em mi
ele lá...

depois os três...
viram sol.

sem mais.

falaram preu lembrar você

no mar as pedras falaram preu te lembrar
de início não me toquei
te toquei
só de relance

falaram mais vez qué preu te lembrar
te lembrei
me toquei
só de relance

falaram preu lembrar você
qué dizer que me esqueci
que precisou lembrar
só de relance

Qué dizer que precisou falar
preu lembrar você
que não me esqueci
nem de relance
Como eu amo
me como, me amo
me ato em mim
e me acordo.

me língua, me mordo
me cabelos
me mãos nas pernas percorrem.

como eu quero
me quero
me busco, me corro
me declaro amor eterno.

- eu queria ser mais contemporânea, mas sou romântica-

01/09/2007

maio de 2002

Ao amor, que é a vida


Tu és meu canto, meu pranto
minha arte, minhas vogais.
E eu que choro tanto
faço do canto um desapego,
que conforta, que enternece
que acolhe todo o pranto
e entontece todas as lágrimas
perdidas, chorosas
que cochicham e choram
e falam e calam
suspiram, gritam !
engasgam, miúdas
cantando palavras
que confortam, que enternecem
que acolhem o pranto
E entontecem. E entontecem.

janeiro de 2003

Quisera nascer com uma pedra no peito
pesada, doída, convexa.
E no lugar do que chamam de amor
espinhos, fagulhas, faíscas.
Soltar verbos ao invés de flores
Viver pra ter, pra ser um vão.

Não chorarei.
Minhas lágrimas são versos quentes
que jorram feito sangue
e matam lentamente.

Serei só.
Se não querem me ver como sou
São tão cegos!

Solidão.
Vejo um mundo a que não pertenço.
Vejo máquinas, pessoas
Pessoas-máquinas, egoístas

O ódio do mundo não me consome.
Eu tenho meus versos
Que ainda jorram, lentamente...
sangue após sangue.
Navegue-me, por favor.