tudo foi vendido:
a amizade, o amor, o sexo, a morte, a vida, as roupas, a mãe, o pai, os avós, o prazer, a felicidade, o céu, o inferno, o carro, o corpo, a honra, a palavra...
só a poesia continua na prateleira - em liquidação.
29/12/2007
03/12/2007
Primeira página
Presos esperança e chocolate
Delegado faz show aqui no mundo
Em Santa corridos de vida
Emergentes dominam e outra
Publicidade:
Cérebro faz a gente menino
Cantor, mulheres, promoção
Disputas dominam elogio
Malária aumentou tiroteio
Esportes:
Corrupção investimentos se cumprimentarem
2008 atinge jogadores
cada tipo do circuito no Brasil
para decidir a história da GLOBO.
Delegado faz show aqui no mundo
Em Santa corridos de vida
Emergentes dominam e outra
Publicidade:
Cérebro faz a gente menino
Cantor, mulheres, promoção
Disputas dominam elogio
Malária aumentou tiroteio
Esportes:
Corrupção investimentos se cumprimentarem
2008 atinge jogadores
cada tipo do circuito no Brasil
para decidir a história da GLOBO.
29/11/2007
22/11/2007
Um espelho fazia do seu rosto algo quase que corriqueiro, algo que subia escadas, descia, falava, se apresentava, sorria. Também falava sozinho, do jeito como geralmente se faz. Às vezes com alguns interlocutores que figuravam em sua frente, mas que ele mesmo não via. Era por causa do espelho, claro. Isso era bem visível a todos. Mas ninguém comentava. Era algo tão corriqueiro que não precisaria ser dito. Então, de consenso, ficava o não dito. O espelho era onipresente. Só faltava falar. Tudo que se passava era através do espelho, por detrás do espelho, em cima, embaixo, dentro, sobre... Estes eram os pontos-de-vista. As pessoas sabiam disso. Eventualmente um ou outro se via espelhado. Mas era só isso. Se via espelhado. Ponto.
06/11/2007
O que era um se tornou dois.
Como se no céu aparecesse outra Lua, outro Sol.
A noite continuaria noite, mas duas Luas.
Então para os poetas, as donzelas, os enamorados, mais um assunto:
Comparar as duas Luas. Chegar à conclusão nenhuma.
Porque o que era um se tornou dois.
Não há metafísica, supra-realidade, sobre-humanidade.
Há mais beleza, sim.
Duas Luas, Dois Sóis.
Mais luz, mais calor, mais dia, mais noite, mais sombras debaixo de árvores, mais pôr-do-sol coberto de dourado e rosa, mais reflexo da lua tingindo o mar prateado
e a influência nas marés.
O mundo ainda é mundo.
O Sol ainda é Sol.
A Lua ainda Lua.
Só que dois.
Ao querido Juan Manoel
Como se no céu aparecesse outra Lua, outro Sol.
A noite continuaria noite, mas duas Luas.
Então para os poetas, as donzelas, os enamorados, mais um assunto:
Comparar as duas Luas. Chegar à conclusão nenhuma.
Porque o que era um se tornou dois.
Não há metafísica, supra-realidade, sobre-humanidade.
Há mais beleza, sim.
Duas Luas, Dois Sóis.
Mais luz, mais calor, mais dia, mais noite, mais sombras debaixo de árvores, mais pôr-do-sol coberto de dourado e rosa, mais reflexo da lua tingindo o mar prateado
e a influência nas marés.
O mundo ainda é mundo.
O Sol ainda é Sol.
A Lua ainda Lua.
Só que dois.
Ao querido Juan Manoel
05/11/2007
A alegria tornou-se forte.
Braços compridos, firmes.
As mãos estão mais claras,
também as palavras.
A alegria agora fala mais alto.
Fala mesmo para ser ouvida .
É capaz de gritar, de brigar,
gesticular chacoalhando o dedo indicador como quem sabe o que diz.
Agora tem credibilidade, ganhou respeito.
Só quer poesia. Só pensa em poesia.
A alegria está amando.
Braços compridos, firmes.
As mãos estão mais claras,
também as palavras.
A alegria agora fala mais alto.
Fala mesmo para ser ouvida .
É capaz de gritar, de brigar,
gesticular chacoalhando o dedo indicador como quem sabe o que diz.
Agora tem credibilidade, ganhou respeito.
Põe pra correr muito marmanjo.
Ela cansou de velhas histórias
Só quer poesia. Só pensa em poesia.
A alegria está amando.
02/11/2007
Complicada essa coisa de descomplicar as coisas, de se tornar claro, de se fazer visível, de ser, de desatar os nós, de vomitar as palavras que causam náuseas tanto em quem as fala quanto em quem escuta. E mesmo depois de vomitar tanto, de botar pra fora, sobra uma ressaca... ressaca sem bebida. É quase como quando se briga e se apanha e se bate e bate em si. Mas sem chorar...
Não há mais tempo para chorar.
Há que se bater mais. Há que se mostrar para as palavras as suas arestas pontiagudas. Há que se aprender a ser um domador de palavras. Como de cães, como de coiotes. Cada um no seu lugar. Cada um em sua jaula.
Cada um com a sua jaula.
Não há mais tempo para chorar.
Há que se bater mais. Há que se mostrar para as palavras as suas arestas pontiagudas. Há que se aprender a ser um domador de palavras. Como de cães, como de coiotes. Cada um no seu lugar. Cada um em sua jaula.
Cada um com a sua jaula.
22/10/2007
Parece que o sol resolveu sair para expiar o dia. Acho que o vi sorrindo. Não sei bem se era sorriso ou simples repouso de lábios, um sobre o outro, de forma descomplicada e serena. Quem ouvira o som falara até em gargalhadas. Não sei. Talvez o som fosse simples som de alegria, que sai da boca sem nem precisar sorrir. Simples assim. Parece que as palavras não tangenciaram essa coisa de alegria, de precisar sorrir para estar feliz. De fato o sol estava. Se ele sorria ou gargalhava, não sei. Não importa. Só sei que se expandia nele uns raios que vibravam, uns sons, uns movimentos de lábios, umas contrações na região do abdome. E o rosto se iluminava como nunca. E ele iluminava como nunca.
17/10/2007
Em memória de minha mãe
Paira uma nuvem no calçadão da praia. Nunca mais fez sol. Aquele mar em que as ondas batiam faz que não percebe. Eu também. Pouco importa se faz sol ou chuva, ou tempestade, ou canivetes. Paira uma nuvem no calçadão da praia. As pernas não acham sustento para andar. Quem dirá correr. As pernas não querem mais nada. Também os braços, os abraços, as palavras. Elas em especial sentem falta do ouvido. Sentem falta de sair fluindo de intimidades em intimidades, em perguntas, em conselhos. Elas só buscam aprovação. As mordidas nas bochechas, os "você sabia que eu te amo?", "Lindinha"...
E o que sobra são memórias. E o que sobra é fugidio. E o que sobra já se foi.
E o que sobra são memórias. E o que sobra é fugidio. E o que sobra já se foi.
16/10/2007
15/10/2007
Os olhos
Passeiam unidos, percorrem objetos gerados
pelo desejo movente a cada instante
o desejo de ver e ver e ver e desejar objetos
que movem. Eles se movem.
Inquietos.
Vez ou outra páram,
fecham,
respiram,
se acalmam
se fecham.
Num instante é um turbilhão de luzes e sons que viram imagens e imagens que viram água e que escorrem e que escorrem pelos dois, molhando a face e deixando-os vermelhos, eles vermelhos de tanta água.
Ah, quando eles se abrem...
eles fazem mover o corpo inteiro pra ver outros olhos.
Eles querem ver olhos o tempo inteiro.
Primeiro os olhos,
depois a boca.
Mais abaixo,
é o que vier...
E tudo se torna um paraíso.
pelo desejo movente a cada instante
o desejo de ver e ver e ver e desejar objetos
que movem. Eles se movem.
Inquietos.
Vez ou outra páram,
fecham,
respiram,
se acalmam
se fecham.
Num instante é um turbilhão de luzes e sons que viram imagens e imagens que viram água e que escorrem e que escorrem pelos dois, molhando a face e deixando-os vermelhos, eles vermelhos de tanta água.
Ah, quando eles se abrem...
eles fazem mover o corpo inteiro pra ver outros olhos.
Eles querem ver olhos o tempo inteiro.
Primeiro os olhos,
depois a boca.
Mais abaixo,
é o que vier...
E tudo se torna um paraíso.
08/10/2007
Ela despejava suas intensidades em um teclado de um computador e se escrevia em terceira-pessoa. As suas intensidades vazavam pelos seus poros e a faziam passar vergonha (aos olhos dos outros, sempre). Ela não se importava. Ela não se importava se os seus escritos se repetiam, ou repetiam-se as palavras. Ela simplesmente fluía de um desejo de desejar alguma coisa, algum objeto. Sua terceira-pessoa não sabia quem era. Nem a primeira-pessoa. Faltava uma segunda-pessoa, ela pensava. As suas intensidades procuravam vazão, não encontravam um objeto e então criavam um: palavras. Ela pensa que é melhor assim. Uma segunda-pessoa poderia trazer um eu-tu problemático. Uma segunda-pessoa poderia deixar o eu. Uma segunda-pessoa poderia fazer o eu se tornar ela. Novamente.
03/10/2007
a casa
as fotos em branco-e-preto nos porta-retratos
eram bisavós e tios na mesinha de canto
comiam os cupins algumas brechas
o resto permanecia intacto
as flores foram as primeiras
resolveram se ausentar dessa nova fase
direito de escolha: morreram
guardaram a lembrança os vasos e a terra
móveis de madeira e vidro
os quadros na parede convivem
não mais a mesa espera posta
nada mais espera, é verdade.
eram bisavós e tios na mesinha de canto
comiam os cupins algumas brechas
o resto permanecia intacto
as flores foram as primeiras
resolveram se ausentar dessa nova fase
direito de escolha: morreram
guardaram a lembrança os vasos e a terra
móveis de madeira e vidro
os quadros na parede convivem
não mais a mesa espera posta
nada mais espera, é verdade.
faltou aquele projeto de futuro
que se instalaria no corredor da sala
no mais, tudo repousa limpeza
a janela fechada, a porta muda.
a casa permanecia a mesma e mesmo assim assustava.
30/09/2007
estava precisando suicidar-me um pouco,
botar as vísceras pra fora e depois pra dentro.
tudo dentro!
mostrar com quantas artérias se faz um coração,
me convencer que eu o tenho.
o coração...
é bom ver o sangue vez em quando
deixar que o corpo diga que estou viva
sentir dor física
(não essas dores da alma: dores mesquinhas que se acham gente! Não são gente!)
pôr-me à mesa
que me engulam crua!
Não irei me cozinhar...
Os óculos achados me lembraram gentes
gentes de óculos vêem melhor
qualquer lente vê melhor do que eu!
usarei óculos
agora em diante
pra ver o tempo passar
Ah, e o que é mesmo o tempo para que eu o aproveite? ...Pessoa Fernando usava óculos.
botar as vísceras pra fora e depois pra dentro.
tudo dentro!
mostrar com quantas artérias se faz um coração,
me convencer que eu o tenho.
o coração...
é bom ver o sangue vez em quando
deixar que o corpo diga que estou viva
sentir dor física
(não essas dores da alma: dores mesquinhas que se acham gente! Não são gente!)
pôr-me à mesa
que me engulam crua!
Não irei me cozinhar...
Os óculos achados me lembraram gentes
gentes de óculos vêem melhor
qualquer lente vê melhor do que eu!
usarei óculos
agora em diante
pra ver o tempo passar
Ah, e o que é mesmo o tempo para que eu o aproveite? ...Pessoa Fernando usava óculos.
29/09/2007
caiu, caiu, caiu
foi caindo que se deu conta
que lhe faltava um chão pra cair
levantou
nem precisou de ajuda!
ela já sabe cair sozinha
e levantar
deu uns passos adiante
três passos, pra ser exato
(ela queria é sair correndo)
Dia desses eu a vi chorando
depois não vi mais
ela dança, ela canta
faz dessa arte a sua vida
qualquer tipo de arte
pintada com sangue
dançada com gritos
urrada, pra ser preciso
(ela queria é sair gritando)
foi caindo que se deu conta
que lhe faltava um chão pra cair
levantou
nem precisou de ajuda!
ela já sabe cair sozinha
e levantar
deu uns passos adiante
três passos, pra ser exato
(ela queria é sair correndo)
Dia desses eu a vi chorando
depois não vi mais
ela dança, ela canta
faz dessa arte a sua vida
qualquer tipo de arte
pintada com sangue
dançada com gritos
urrada, pra ser preciso
(ela queria é sair gritando)
18/09/2007
Eu morri e ainda não sei se o certo seria eu morreu. Sei a data que foi o ocorrido. Sei as circunstâncias. Sei tudo o que se passou e se passa após a morte do eu. Eu morri ou morreu, pouco importa. O que trouxe a morte foi um nascimento novo. Eu não nasceu denovo. O que nasceu foram os resíduos do que havia ficado pendente na ocasião da morte. Os resíduos em movimento geram produtos inexplicáveis. Há que se ter clareza do que são resíduos. Eu não nasceu denovo. Enquanto os resíduos se ocupam em pendências, ocupam pendências, o que sobra é o vazio. O vazio nasceu. Há que se celebrar o vazio que nasce, o vazio que nasce a cada dia. Não o que morre.
17/09/2007
E se tocar?
Ela acordou e foi escrever. Seu lápis percorria o papel ou as teclas do seu computador, ou o que vier primeiro, como se percorresse as pernas dela e dele, ou deles, e descesse e subisse e assim tecia uma história. Não sabia ela que ao tocar o papel, ou a tela, ou o mouse, ou os dedos, ou o corpo dele, ela também tocava uma parte da história dela, a própria, e tocava também o sagrado das religiões que começava lá com a moça que parava para assistir. Disseram que a história virou luz. Ela que surgira assim depois de uma noite de lençóis e travesseiros e jarros derrubados e despedidas e portas e beijos e adeus. Sem até logo.
A outra foi tocada pelos dedos voluptuosos das palavras. Pegou outro lápis e foi escrever. Foi falando de máquinas que sem perceber falava de si. Sua pele virava um produto cheia de produtos que geravam produtos consumidos pelos consumidores que ela consumia: cheia de si.
A terceira fez-se presente. A outra-outra. Aquela que se deixou transpassar pela história. Deixou que a história subisse pelos pés e adentrasse as concavidades do seu corpo. Assim de baixo para cima, quase de cabeça para baixo.
Disseram que a história se fez luz. Disseram também que a história se fez gozo.
A outra foi tocada pelos dedos voluptuosos das palavras. Pegou outro lápis e foi escrever. Foi falando de máquinas que sem perceber falava de si. Sua pele virava um produto cheia de produtos que geravam produtos consumidos pelos consumidores que ela consumia: cheia de si.
A terceira fez-se presente. A outra-outra. Aquela que se deixou transpassar pela história. Deixou que a história subisse pelos pés e adentrasse as concavidades do seu corpo. Assim de baixo para cima, quase de cabeça para baixo.
Disseram que a história se fez luz. Disseram também que a história se fez gozo.
15/09/2007
O sol na pele queimava o que os braços moviam devagar e rápido, desde as escápulas até a ponta do que era conhecido como verdade. O que as linhas falavam dela? Certamente era o que às pernas faltava, um pouco de joelho e pé. O que movia eram apenas as circunstâncias daquele beijo que ocorrera há tão pouco e que ainda habitava seus lábios e seus cabelos tão cacheados. O chão que fora construído pela manhã permanecia ali, um pouco carregado, deslocado, compartilhado, bem verdade, mas sempre ali presente o chão. Suas pernas bem sabiam. Ou não. Estavam seus braços procurando seus olhos e os olhos achavam seu corpo, dele, de verde, tocando cada centímetro da alma dela que não enxergava mais nada. Ele ajudava a construir o chão, verdade. É que a presença dele construía um algo que ela gostava e movia dentro deles cada uma das vértebras. As cabeças se procuravam a cada suspiro. Os pés bem sabiam. Os olhos também.
11/09/2007
vocês são artistas, muito bonito, toca pra mim, eu nunca vi nada igual, bonito, nunca ouvi, é o quê, ioga, teatro, ginástica, caralho, corpo, jogo, brincadeira, quanto, por quê, pra quê, olha o que a maconha faz, o que tá havendo, é surto, são doidos, vocês, apaixonada por ela, toma cuidado, pensa que tá onde, trabalho, e o dinheiro, pouca vergonha, eu não, de mão dada, na rua, é evangélico, é gay, é beijo, é cifose, é escoliose, é cenário, caixinha de música, novela, bonita, dinheiro, bate ponto, pode bater, comer, dar, aonde ?
09/09/2007
05/09/2007
falaram preu lembrar você
no mar as pedras falaram preu te lembrar
de início não me toquei
te toquei
só de relance
falaram mais vez qué preu te lembrar
te lembrei
me toquei
só de relance
falaram preu lembrar você
qué dizer que me esqueci
que precisou lembrar
só de relance
Qué dizer que precisou falar
preu lembrar você
que não me esqueci
nem de relance
de início não me toquei
te toquei
só de relance
falaram mais vez qué preu te lembrar
te lembrei
me toquei
só de relance
falaram preu lembrar você
qué dizer que me esqueci
que precisou lembrar
só de relance
Qué dizer que precisou falar
preu lembrar você
que não me esqueci
nem de relance
01/09/2007
maio de 2002
Ao amor, que é a vida
Tu és meu canto, meu pranto
minha arte, minhas vogais.
E eu que choro tanto
faço do canto um desapego,
que conforta, que enternece
que acolhe todo o pranto
e entontece todas as lágrimas
perdidas, chorosas
que cochicham e choram
e falam e calam
suspiram, gritam !
engasgam, miúdas
cantando palavras
que confortam, que enternecem
que acolhem o pranto
E entontecem. E entontecem.
Tu és meu canto, meu pranto
minha arte, minhas vogais.
E eu que choro tanto
faço do canto um desapego,
que conforta, que enternece
que acolhe todo o pranto
e entontece todas as lágrimas
perdidas, chorosas
que cochicham e choram
e falam e calam
suspiram, gritam !
engasgam, miúdas
cantando palavras
que confortam, que enternecem
que acolhem o pranto
E entontecem. E entontecem.
janeiro de 2003
Quisera nascer com uma pedra no peito
pesada, doída, convexa.
E no lugar do que chamam de amor
espinhos, fagulhas, faíscas.
Soltar verbos ao invés de flores
Viver pra ter, pra ser um vão.
Não chorarei.
Minhas lágrimas são versos quentes
que jorram feito sangue
e matam lentamente.
Serei só.
Se não querem me ver como sou
São tão cegos!
Solidão.
Vejo um mundo a que não pertenço.
Vejo máquinas, pessoas
Pessoas-máquinas, egoístas
O ódio do mundo não me consome.
Eu tenho meus versos
Que ainda jorram, lentamente...
sangue após sangue.
pesada, doída, convexa.
E no lugar do que chamam de amor
espinhos, fagulhas, faíscas.
Soltar verbos ao invés de flores
Viver pra ter, pra ser um vão.
Não chorarei.
Minhas lágrimas são versos quentes
que jorram feito sangue
e matam lentamente.
Serei só.
Se não querem me ver como sou
São tão cegos!
Solidão.
Vejo um mundo a que não pertenço.
Vejo máquinas, pessoas
Pessoas-máquinas, egoístas
O ódio do mundo não me consome.
Eu tenho meus versos
Que ainda jorram, lentamente...
sangue após sangue.
21/08/2007
Os dois
Dois olhos, dois olhos
os quatro se refletindo
estrelas no céu
na terra dois corpos em um.
Eles estão parados,
ali fez-se ouvir o silêncio.
O mundo então pára.
É preciso escutar mais os olhos.
Encontro antigo.
Ela feliz de contar com ele.
E sempre, e sempre
o pulsar bate em paz no seu corpo.
Eles querem que a noite não passe.
Eles querem um sonho pra sempre.
É preciso escutar mais as luzes.
Ela deita e apaga a luz.
ao querido Renato
os quatro se refletindo
estrelas no céu
na terra dois corpos em um.
Eles estão parados,
ali fez-se ouvir o silêncio.
O mundo então pára.
É preciso escutar mais os olhos.
Encontro antigo.
Ela feliz de contar com ele.
E sempre, e sempre
o pulsar bate em paz no seu corpo.
Eles querem que a noite não passe.
Eles querem um sonho pra sempre.
É preciso escutar mais as luzes.
Ela deita e apaga a luz.
ao querido Renato
03/08/2007
A pedra
Quisera eu uma pedra no peito
bem grande, bem pesada.
E por causa da pedra eu teria mais peso
meus pés pisariam o chão com mais força
Então meus passos ficariam marcados
e todos saberiam por onde andei.
A minha presença alteraria o chão
minha chegada seria notada, facilmente.
Minha pedra batendo no peito
faria tremer o mais valente dos homens.
O ruído da pedra.
Seria impossível não me darem ouvidos
Quando eu estivesse com pressa,
prontamente se abririam os caminhos.
A pedra pulando no peito ao correr
assustaria até as formigas do chão.
Como eu seria tão forte!
As pessoas me respeitariam
por ter a pedra no peito.
Eu seria ela, tão grande.
Nos dias de hoje eu me pergunto:
Pra que viver com moderação?
No peito, se tem um buraco,
eu quero a pedra!
bem grande, bem pesada.
E por causa da pedra eu teria mais peso
meus pés pisariam o chão com mais força
Então meus passos ficariam marcados
e todos saberiam por onde andei.
A minha presença alteraria o chão
minha chegada seria notada, facilmente.
Minha pedra batendo no peito
faria tremer o mais valente dos homens.
O ruído da pedra.
Seria impossível não me darem ouvidos
Quando eu estivesse com pressa,
prontamente se abririam os caminhos.
A pedra pulando no peito ao correr
assustaria até as formigas do chão.
Como eu seria tão forte!
As pessoas me respeitariam
por ter a pedra no peito.
Eu seria ela, tão grande.
Nos dias de hoje eu me pergunto:
Pra que viver com moderação?
No peito, se tem um buraco,
eu quero a pedra!
30/07/2007
a lei do mato
No mato é que se faz a lei
é de comum-acordo a teia da aranha
quando cai bicho ali ninguém reclama
nem se debate, a morte é certa
No mato é que se faz lei
casa de marimbondo ninguém se mete
Saiu de casa? Que se garanta!
use ferrão e seja breve.
No mato se faz lei
formiga grande, maior pedaço
para as pequenas, só os farelos
toda labuta dá resultados.
É só no mato que se faz lei
pode soprar o vento forte
se uma raiz está fraca e cambaleia
tem a floresta pra sustentar.
é de comum-acordo a teia da aranha
quando cai bicho ali ninguém reclama
nem se debate, a morte é certa
No mato é que se faz lei
casa de marimbondo ninguém se mete
Saiu de casa? Que se garanta!
use ferrão e seja breve.
No mato se faz lei
formiga grande, maior pedaço
para as pequenas, só os farelos
toda labuta dá resultados.
É só no mato que se faz lei
pode soprar o vento forte
se uma raiz está fraca e cambaleia
tem a floresta pra sustentar.
29/07/2007
Álea
flor do campo
noite branca
brisa leve, sol no rosto
tudo passa
a vida é boa
voam os sonhos pela janela
Ah...
se Álea soubesse
que o seu viver
faz-lhe tão bela
Ah...
se Álea soubesse
que dos seus olhos
nascem as palavras
Ela diria, com pés no chão
no rosto o jeito de quem sabe
sem mais palavras, com precisão
pontuaria:
"- A vida é isso."
à queridíssima Álea
noite branca
brisa leve, sol no rosto
tudo passa
a vida é boa
voam os sonhos pela janela
Ah...
se Álea soubesse
que o seu viver
faz-lhe tão bela
Ah...
se Álea soubesse
que dos seus olhos
nascem as palavras
Ela diria, com pés no chão
no rosto o jeito de quem sabe
sem mais palavras, com precisão
pontuaria:
"- A vida é isso."
à queridíssima Álea
o beijo
Uma criança
tão frágil que mais parecia um boneco de palitos.
Uma criança-palito deitada na cama.
Os pés pra fora tiquetaqueando o tempo.
Os pés gelados não se encomodavam com o frio,
ela viria para os cobrir...
A luz acesa, os olhos abertos.
Denovo os pés para espantar o sono
E a longa espera.
De súbito o pai
sem devaneios:
- Aconselho-te a apagar a luz.
tão frágil que mais parecia um boneco de palitos.
Uma criança-palito deitada na cama.
Os pés pra fora tiquetaqueando o tempo.
Os pés gelados não se encomodavam com o frio,
ela viria para os cobrir...
A luz acesa, os olhos abertos.
Denovo os pés para espantar o sono
E a longa espera.
De súbito o pai
sem devaneios:
- Aconselho-te a apagar a luz.
16/07/2007
10/07/2007
masculinidade, quiçá feminino
na pele pelos cabelos
pés caminham destino
automóvel move chão
milhão de cantinhos possíveis
que na massa molda não
membro enxerto ereto sei
mete o pé como se mão.
dedo casa com aperto
arrocha a rosa cantiga
que nem mama nem balança
nem arranha nem a come.
tem a fome mas não morde
brinca desse olho-no-olho
conta contas com moedas
entra nela perde ela.
na pele pelos cabelos
pés caminham destino
automóvel move chão
milhão de cantinhos possíveis
que na massa molda não
membro enxerto ereto sei
mete o pé como se mão.
dedo casa com aperto
arrocha a rosa cantiga
que nem mama nem balança
nem arranha nem a come.
tem a fome mas não morde
brinca desse olho-no-olho
conta contas com moedas
entra nela perde ela.
04/07/2007
à vera
um dia o vento parou pra dançar
fez do sol seu parceiro de valsa
dourou cor-de-rosa a aurora
cantou
a luz que surgiu desse encontro
melodia sutil desse canto
cegou o homem
cresceu a flor
Do que o dia parou pra sentar
levou ela sua bela lança
rompeu com um abraço o fogo
lutou.
o embate se fez sobre a terra
o amor encantou-se à vera
verteu sobre o mundo
sonhou.
à amiga-irmã Vera...
fez do sol seu parceiro de valsa
dourou cor-de-rosa a aurora
cantou
a luz que surgiu desse encontro
melodia sutil desse canto
cegou o homem
cresceu a flor
Do que o dia parou pra sentar
levou ela sua bela lança
rompeu com um abraço o fogo
lutou.
o embate se fez sobre a terra
o amor encantou-se à vera
verteu sobre o mundo
sonhou.
à amiga-irmã Vera...
03/07/2007
Francine
Chisloucava a noite inteira,
chisloucando feito doida,
rusminando.
Engasgando a saliva que vinha
comia o vento e o ar.
Golfava os bois de dentro,
carcospia-os pra fora
às vezes sujando as saias,
às vezes crispando o olho.
Era toda assim toda.
Impedia qualquer passagem
de sopro de cotovelo
de língua amorfa e tempestade.
Tinha uma certa leveza dela
de beleza, de certeza.
Só não sabia fazer mistérios.
Falava um beijo, ficava feito.
De tudo um pouco é o que diziam,
assim descia pela goela:
olhava os postes, ela passava
nua e crua a graceiar pela rua.
chisloucando feito doida,
rusminando.
Engasgando a saliva que vinha
comia o vento e o ar.
Golfava os bois de dentro,
carcospia-os pra fora
às vezes sujando as saias,
às vezes crispando o olho.
Era toda assim toda.
Impedia qualquer passagem
de sopro de cotovelo
de língua amorfa e tempestade.
Tinha uma certa leveza dela
de beleza, de certeza.
Só não sabia fazer mistérios.
Falava um beijo, ficava feito.
De tudo um pouco é o que diziam,
assim descia pela goela:
olhava os postes, ela passava
nua e crua a graceiar pela rua.
No seu rosto o céu se encerrava de azul. Bonito de ver! Tirava as palavras de uma bolsinha miúda, e assim distribuía, até ficarem grandes. As palavras... vez em quando as comia, as lambia feito a mãe com filhotes. Tinha um tom assim tranquilo de ser não sendo, de fazer fazendo, de ver. E tudo se enchia em seus olhos, tudo ficava tão certo... até eu.
para Cristóvão
02/07/2007
O dia em que algo se fez presente
A luz se apagou depressa
E levou
Aquilo que mais precioso se fazia ali
Ela
Luz
Num dia se foi
E como um ruído de silêncio
Calou
A vida
Tornando o mundo ao redor silêncio
Viveu
Morreu
Sofrendo comigo a dor da partida
Feliz de estar assim reluzente
Como o agora
Como a ferida
No peito faltou um buraco
Faltou a falta
Saiu
Calou
Jamais
A vida
E o dia se fez ausente
E o choro chorou pra dentro
Pra sempre.
A luz se apagou depressa
E levou
Aquilo que mais precioso se fazia ali
Ela
Luz
Num dia se foi
E como um ruído de silêncio
Calou
A vida
Tornando o mundo ao redor silêncio
Viveu
Morreu
Sofrendo comigo a dor da partida
Feliz de estar assim reluzente
Como o agora
Como a ferida
No peito faltou um buraco
Faltou a falta
Saiu
Calou
Jamais
A vida
E o dia se fez ausente
E o choro chorou pra dentro
Pra sempre.
Assinar:
Postagens (Atom)
Navegue-me, por favor.

Arquivo do blog
-
▼
2007
(39)
-
►
setembro
(12)
- estava precisando suicidar-me um pouco,botar as ví...
- caiu, caiu, caiufoi caindo que se deu contaque lhe...
- Eu morri e ainda não sei se o certo seria eu morre...
- E se tocar?
- O sol na pele queimava o que os braços moviam deva...
- vocês são artistas, muito bonito, toca pra mim, eu...
- ali a pedra ficou ali eu bati ali a pedra ficou al...
- naquela noite as duas...nele.o sol em três,depois ...
- falaram preu lembrar você
- Como eu amome como, me amome ato em mime me acordo...
- maio de 2002
- janeiro de 2003
-
►
julho
(12)
- a lei do mato
- Álea
- o beijo
- braile
- vermelho
- masculinidade, quiçá femininona pele pelos cabelos...
- ver a noiteas bicicletas paradas na esquinapeitos ...
- à vera
- Francine
- No seu rosto o céu se encerrava de azul. Bonito de...
- O dia em que algo se fez presenteA luz se apagou d...
- O tempo - este imprestável -fugia como um gato a p...
-
►
setembro
(12)